19 de maio de 2016

ASTROFÍSICA E MICROEMPREENDEDORES

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Esse não é um texto que vai te dar dicas no formato de tópicos sobre como ser um empreendedor de alto sucesso ou nem oferecer ferramentas secretas. “Faça isso e desfrute as batatas do vencedor que você será”. Pelo contrário, escreverei sobre o básico – o “como trabalhar” – e usarei como exemplo aquilo que aprendi de astrofísica para te contar sobre uma excelente maneira de fazer negócios.

POR QUE LER ESTE ARTIGO

Hoje se fala bastante sobre empreendedorismo. Questão de contexto, uma vez que as pessoas escrevem a respeito daquilo que se interessam: segundo o último Global Entrepreneurship Monitor, a evolução da atividade empreendedora no Brasil fez o país se situar na primeira posição dentre os 70 analisados (dados pré-crise econômica e política). Sem contar a aspiração cultural que ser empreendedor se tornou. Em uma rápida pesquisa no Google o termo “Steve Jobs” trouxe 317.000.000 de resultados, enquanto “Entrepreneurship” apontou apenas 77.400.000.
É uma pena que no meio desse turbilhão de conhecimento quase nada seja dito sobre algo fundamental como o fato das decisões que tomamos serem baseadas na nossa percepção da realidade. Isso quer dizer que para seguir caminho A ou G nós passamos por um processo supostamente lógico de enxergar as condições que estão dadas, julga-las e agir de acordo com os fins que esperamos.
O problema é que nós enxergamos o mundo sob uma perspectiva contagiada por nossas ideias de como a realidade é e o mundo funciona. Contaminação esta que vem da nossa bagagem pessoal, dos valores e crenças que possuímos e que incidem diretamente sob nosso olhar. É quase uma normatização, um dizer-como-a-realidade-deveria-ser, e usamos cada oportunidade de decisão para forçar nossa perspectiva de alguma forma na vida prática. E isso afeta os negócios.
O verdadeiro truque de uma boa decisão, portanto, é se distanciar das nossas teorias e hipóteses a respeito das características da realidade e verdadeiramente ouvir o que ela tem a dizer, de preferência de olhos bem abertos.

A ASTROFÍSICA

Em Novembro de 2015 a Associação Aventura de Construir ofereceu mais uma capacitação como faz mensalmente na Lapa de Baixo. O público é sempre composto por microempreendedores da região Noroeste da cidade, de bairros pobres e periféricos. Para comparecer só custa o valor da passagem para chegar ao local. O diferencial deste pequeno curso de duas horas foi trazer o professor Jorge Luis Melendez Moreno, do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo.
Neste dia o professor Melendez explicou sua pesquisa científica à procura de um sistema solar com similaridades ao nosso, pois assim seria mais fácil encontrar um planeta como a Terra. O método consiste em utilizar telescópios para olhar feixes de luz que vem de estrelas longínquas do universo de forma a procurar por planetas, os quais não emitem luz própria e são quase invisíveis. Analisando os feixes é possível afirmar se há algum corpo estelar gravitando um sol e é dessa forma que se encontram novos planetas e sistemas solares possivelmente iguais ao nosso. Inclusive o professor contou sobre como mudou sua hipótese inicial de procura – e a ajustou diante dos primeiros resultados conflitantes.

MAS E OS NEGÓCIOS?

Por que microempreendedores de baixa renda fechariam as portas dos seus negócios mais cedo e gastariam o valor da tarifa do transporte público para comparecer a uma palestra de um cientista que estuda os astros?
Para escutar do professor Melendez e da Aventura de Construir como a abordagem científica é a mesma que qualquer empreendedor deve ter em suas decisões de negócios: enxergar os indícios da realidade observável e se deixar impactar pelas mensagens. Esse é o método de trabalho que permite ampliar a razão diante da realidade, além de forçar as barreiras das nossas próprias ideias. É apenas olhando as pistas que a realidade te oferece que conseguimos chegar aos nossos objetivos, como o professor Melendez. Outro bom exemplo é o de Alexander Flaming, que descobriu a penicilina quando estudou uma placa de bactérias que havia esquecido em seu laboratório por semanas ao invés de descarta-la. Esse “como trabalhar” invariavelmente implica em ser humilde diante dos fatos, seguindo as pistas dadas e readequando sua trajetória quando necessário.
Nenhum empreendedor deve tomar nada do que faz como óbvio. Cada situação desafiadora contém as respostas de sua superação. O cientista francês Louis Pasteur já dizia que o acaso só favorece as pessoas preparadas e requer observação.

REALIDADE, NA PRÁTICA

Recentemente fui a uma cafeteria, onde teria uma reunião com outras três pessoas. Depois que me sentei, reparei que o wi-fi do local havia sido bloqueado e as tomadas das mesas retiradas. Perguntei ao atendente do caixa o porquê das mudanças para ouvir um sonoro “porque as pessoas passavam tempo demais aqui dentro”. Eis aqui a primeira cafeteria que quer moldar as necessidades dos clientes e que nega o fato que as pessoas precisam fazer reuniões corriqueiras com internet, tomada e um gostoso café.
Já nos bairros periféricos da zona Noroeste, ofereço consultoria a uma cabelereira especializada em cortes de homens jovens e que procurava uma maneira de cativar seus clientes. Ela perguntou a seu público o que eles achariam positivo que ela oferecesse. Após as respostas, ela tirou a senha do seu wi-fi, passou a disponibilizar videogames antigos e vender cerveja aos maiores de idade. Apenas ações simples, que atendem necessidades de clientes, de baixo custo e que trazem retorno financeiro. Eis aqui a primeira cabelereira de cortes jovens masculinos do Morro Doce que oferece também um espaço de convivência – tudo por extrair da realidade as próprias respostas.
Longe de pregar a infalibilidade de qualquer método, o que quero ressaltar é que existem maneiras mais apropriadas de responder aos nossos desafios. Uns chamam isto de criatividade, de originalidade, de olhar atento, de olhar os detalhes, de olhar o todo. Eu chamo da junção de provocação e humildade para questionar a si.

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