4 de julho de 2016

ISTO É CULTURA? - ARTIGOS O FUNK É UMA LEGÍTIMA MANIFESTAÇÃO CULTURAL OU SINAL DA DECADÊNCIA DE NOSSA ERA?

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O tema em debate hoje no GLOBO foi o funk como manifestação cultural. Oeditorial do jornal adotou a postura favorável, enquanto Milton Rangel, deputado estadual pelo DEM, ofereceu o contraponto, alegando se tratar de uma “cultura da futilidade”. Abaixo, os principais argumentos da cada lado, e em seguida minhas observações finais.
A favor:
É conhecida a trajetória do samba. De música “da malandragem”, proibida, com seus compositores perseguidos pela polícia, tornou-se identificada como autêntica manifestação da cultura do país. […] 
Não foi outra a origem de outros ritmos cujo valor hoje é reconhecido pela sociedade — o jazz dos negros americanos, o jongo, manifestação de resistência no Rio de Janeiro e por aí vai. 
É importante assinalar a maneira como manifestações culturais nascem e se tornam emblemáticas da expressão do que se costuma chamar de minorias (ainda que não numericamente, mas como grupos de produção de cultura) num momento em que, por discriminação, radicalismo ou quaisquer outras razões, parcela considerável da sociedade tem relegado o funk à simplória categoria de “música de bandidos”.
É uma simplificação perigosa. Ela leva, em geral, ao preconceito e à perseguição. Ambos estão presentes, por exemplo, na estigmatização policial dos bailes realizados em favelas pacificadas — a ponto de tais eventos serem explicitamente proibidos pelos comando de UPPs ali instaladas, uma afronta a direitos comezinhos como a liberdade de reunião e de manifestação.
[…]
O funk não é, necessariamente, um ritmo de bandidos, assim como o rock, a despeito de a ele se associar o jargão “sexo, drogas e rock’ roll, não pode ser resumido a “música de drogados”. Ao contrário, de sua simplicidade inicial decorreu uma profusão de músicos de talento.
No caso do funk, há letras que exaltam a violência, a criminalidade, o analfabetismo político, o desrespeito à lei. Mas não se pode esquecer que ele nasceu como manifestação de comunidades onde a violência é uma realidade. Se o oportunismo social o associou ao crime é outra discussão — um problema de combate ao banditismo, não à música.
A qualidade (ou a falta dela) do que se ouve mede-se com o tempo. O que é bom fica.
Contra:
É profundamente lamentável que a música brasileira tenha chegado a esse ponto, depois de ter encantado o planeta com a bossa nova, o chorinho, o samba de raiz. Isso é o reflexo da falta de cultura de um país que tem um ensino sucateado pelas aprovações automáticas. 
O que esperar do funk, das pessoas que se submetem a um pancadão? Seria o cúmulo da vergonha considerar um tipo de música tão vulgar e ridícula como forma de manifestação cultural. Isso sem falar que os bailes funk servem para ajudar a fazer apologia ao tráfico de drogas e armas, que todos já sabem, com letras que fazem exaltar a violência, o crime e a prostituição.
Não que o funk seja a causa disso tudo, mas ele exalta valores que perpetuam essa realidade. É no funk que bandidos viram heróis em suas letras malfeitas e sem poesia. 
A naturalização da violência, já tão presente na vida de jovens e crianças que crescem em comunidades carentes, a desvalorização da vida e a busca inconsequente por ascensão social só colaboram para maiores índices de morte, tortura, estupro etc. 
São aspectos do funk que infligem frustração e sofrimento em seres humanos. Os valores das famílias e do amor são trocados pelas facções e pela cultura do estupro.

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