Dizem que, quando os conquistadores chegaram, vários deles se intoxicaram ao
comer seus frutos.
Placa alerta sobre perigo: "É uma das árvores mais perigosas do
mundo".Foto: Gary
Price / Flicker via freeforcommercialuse.org / BBCBrasil.com
Falam que os indígenas usavam a árvore para tortura, amarrando pessoas a
seu tronco e deixando-as ali para que sofressem quando chegasse a chuva.
Contam que, além disso, os nativos envenenavam suas flechas com sua
seiva.
E que até que foi o motivo da morte do espanhol Juan Ponce de León, o
primeiro governador de Porto Rico, que recebeu uma flechada em uma batalha
quando tentou conquistar a costa da Florida, em 1521.
É difícil comprovar que esses fatos realmente tenham acontecido, mas o
que se diz das propriedades científicas da "árvore da morte" já foi
provado.
Ponce de León, na terra que batizou
de La Florida e que quis conquistar.
Foto: CREATIVE COMMONS / BBCBrasil.com
A temida planta cresce em paisagens
idílicas e pode alcançar grandes alturas.
Seus galhos às vezes repousam sobre a
areia e te convidam a descansar sobre sob sua sombra ou se proteger da chuva ou
do sol.
Seus frutos, muitos parecidos com
maçãs, são cheirosos, doces e saborosos.
Mas ela tem a duvidosa honra de estar
registrada no livro dos recordes, o Guiness Book, como a árvore mais perigosa
do mundo.
Como seu nome diz
Hippomane mancinella. Esse é seu nome
científico.
Segundo o Instituto de Ciências de
Alimentos e Agricultura da Flórida, nos Estados Unidos, Hippomane vem das palavras
gregas hippo , que significa
"cavalo", e mane , que deriva de "mania" ou
"loucura".
O filósofo grego Teofrasto
(371a.C.-287a.C.) nomeou assim uma planta nativa da Grécia após descobrir que
os cavalos ficavam loucos ao comê-la.
E o pai da taxonomia moderna, o sueco
Carl Linneo, deu o mesmo nome à nociva árvore da América.
Mais precisamente, a que é nativa da
América Central e das ilhas do Caribe e cresce da costa da Flórida até a
Colômbia - em alguns lugares, sua presença é alertada por cruzes vermelhas e
placas.
Árvore da Morte:
Esse é um dos seus nomes conhecidos,
usado por quem convivem com ela.
Também é conhecida como Mancenilheira da Areia
ou Mancenilheira da praia - mas árvore da morte é o apelido que melhor descreve
a realidade.
Sua seiva leitosa contém forbol, um
componente químico perigoso. Só de encostar na árvore, sua pele pode ficar
horrivelmente queimada.
Refugiar-se debaixo dos seus galhos
durante uma chuva tropical também pode ser desastroso, porque até a seiva
diluída pode causar uma erupção cutânea grave.
Sombra da árvore pode te convidar para um descanso, mas ficar
embaixo dela é perigoso
Foto: Reinaldo Aguilar / Flicker via freeforcommercialus /
BBCBrasil.com
Queimar
essas árvores também é uma má ideia. A fumaça pode cegar temporariamente e
causar sérios problemas respiratórios.
Mas,
apesar dos efeitos desagradáveis, o contato da pele com esta árvore não é
fatal. A ameaça real vem de sua pequena fruta redonda.
Comer
este fruto, que parece uma pequena maçã, pode causar vômitos e diarreia tão
severos que desidratam o corpo até um ponto em que não há mais cura.
Tanto assim?
A radiologista britânica Nicola Strickland experimentou estes efeitos em 1999 ao passar férias com uma amiga na ilha caribenha de Tobago.
Como boa cientista, ela descreveu o que acontece ao British Medical Journal , para que outros cientistas soubessem o tamanho desta ameaça.
Ela começa contando como, em uma manhã, "encontramos uma dessas idílicas praias desertas... areia branca, palmeiras balançando, o mar turquesa."
Então, viu as frutas verdes que "aparentemente haviam caído de uma árvore grande".
"Mordi a fruta e achei agradavelmente doce. Minha amiga fez o mesmo. Um pouco mais tarde, notamos um gosto estranho e picante na boca, que virou ardência e dor, com uma pressão na garganta."
"Os sintomas pioraram nas duas horas seguintes até que não conseguíamos mais comer alimentos sólidos, pois a dor era insuportável. A sensação era de ter um grande nó abstruindo a garganta."
Por sorte, oito horas mais tarde os sintomas orais começaram a melhorar, mas os gânglios linfáticos ficaram muito sensíveis.
"Nossa experiência provocou um genuíno terror e incredulidade entre os locais. Tal é a reputação do veneno da fruta", diz.
"Uma só mata 20 pessoas"
Histórias do tipo não são novas, é claro.
John Esquemeling, autor de um dos mais importantes livros de consulta sobre pirataria no século 17, "Os corsários da América" (1678), escreveu sobre sua experiência com a árvore "chamada mancenilheira , a árvora da maçã anã", quando esteve na ilha La Española, compartilhada entre o Haiti e a República Dominicana e conhecida por ter abrigado o primeiro assentamento europeu na América no fim do século 15.
"Um dia, quando estava extremamente atormentado pelos mosquitos e ainda ignorante sobre a natureza desta árvore, cortei um galho para me abanar. Meu rosto inchou e se encheu de bolhas, como se estivesse queimado, e fiquei cedo por três dias."
Nicholas Cresswell, cujo diário sobre seus dias nas colônias britânicas na América ficou para história, escreveu sobre a sexta-feira de 16 de setembro de 1774:
"A fruta da mancenilheira tem o aroma e a aparência de uma maçã inglesa, mas é pequena, cresce em árvores grandes, geralmente ao longo da costa. Estão repletas de veneno. Me disseram que uma só é suficiente para matar 20 pessoas."
"A natureza do veneno é tão maligna que uma só gota de chuva ou orvalho que caia da árvore na sua pele imediatamente causará uma bolha. Nem a fruta nem a madeira podem ser usadas, até onde eu sei."
Perigosa, mas útil
Surpreendentemente, talvez, a árvore tem seus usos, segundo o Instituto de Ciências da Agricultura e Alimentos da Flórida.
A mancenilheira da praia é usada para fazer
móveis desde a época colonial. Acredita-se que sua seiva venenosa se neutraliza
quando seca ao sol. Mas manipular a madeira recém-cortada requer muito cuidado.
Os
nativos cobriam suas flechas com o veneno quando iram caçar.
E
há documentos que mostram que a borracha da casca já foi usada para tratar
doenças venéreas e retenção de líquidos na Jamaica, e as frutas secas foram
usadas como diuréticos.
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