Ei feiosa, como estás? Estes dias encontrei a tua mãe na rua e ela me disse que estava com saudades e que eu andava muito desaparecida.
Então não contaste para ela que não conversas comigo há dois anos?
Pois devias. Sabes que não consigo mentir e que começo a rir-me sempre que tento – mas tudo bem, consegui contornar a situação.
Disse-lhe que estava sem tempo e que a culpa era toda minha, como sempre, eu e minha mania de assumir a culpa por ti. Ela me disse que estavas muito triste ultimamente, que os estudos e o namorado não estavam a fazer-te bem e que não sabia mais o que fazer.
Disse também que emagreceste alguns quilos e que estavas sempre com o olhar vago. Dá pra parares com isso? Estás a fazer greve de fome de novo? Será que não te lembras de nada do que eu te ensinei sobre relacionamentos? A partir do momento em que eles começam a fazer mais mal do que bem, é hora de terminar. Manda logo de uma vez esse cromo embora, que nunca te valorizou. Perdoa-me, mas chega a ser engraçado que eu te tenha avisado disso antes mesmo que acontecesse. Eu simplesmente sabia.
Nunca gostaste da minha mania de falar o que vem à cabeça, e não foi diferente quando começaste a namorar e eu disse poucas e boas sobre o gajo. Achaste que eu estava com inveja e que queria separar-te do teu amor verdadeiro. Tudo bem. Eu entendi. Quem precisa de amigas quando se tem um namorado? Bom, toda a gente. Amiga é para sempre, namorado é passageiro. Sem contar que és uma morena sem a tua metade loira, e isso tá errado.
Não sei o que tu pensas, mas mesmo após alguns anos, mesmo após saber que falaste mal de mim para todos os nossos amigos em comum, mesmo após tanta mágoa e tanta saudade, eu ainda estou aqui por ti. Não tenho vergonha de dizer que ainda pego no telemóvel de madrugada e escrevo mensagens que nunca envio. Conto-te como foi o meu dia, as novidades do trabalho, as minhas preocupações com o meu avô, peço conselhos e digo que te amo. Continuas a ter insónias? Eu continuo.
Fiquei a saber que depois de mim, já tiveste outras cinco melhores amigas. Estáá difícil substituir? Eu sei.
Aqui também está. Ninguém consegue ler os meus pensamentos como tu fazias, ou entender que um aperto na mão significa para olhar à volta e descobrir do que estou a falar.
Eu também não sabia que seria tão difícil encontrar alguém que goste de dançar Spice Girls e de assistir desenhos animados.
Às vezes penso em desistir de encontrar uma outra TU, porque no fundo, sei que é impossível. Mas aprendi que a vida segue em frente e que não devemos nos apegar ao passado.
Eu só não queria que tu fosses passado, sabes. Sempre pensei que serias a madrinha do meu casamento, morarias ao lado da minha casa e terias filhos que seriam melhores amigos dos meus.
Ainda me lembro como foi difícil aceitar que isso nunca aconteceria. Mesmo que os nossos planos tenham ido por água abaixo, não tenhas dúvidas de que contarei as nossas histórias para os meus filhos.
Como aquele dia em que fomos embora da festa assim que chegamos só porque a pessoa que querias estava com outra. Tive que te carregar no colo durante um bom tempo, e pior, debaixo de chuva.
Não paravas de chorar e de gritar que ias te deitar da ponte. Como eras dramática. Só podias ser minha melhor amiga mesmo.
Quando chegastw em casa olhaste dentro dos meus olhos e disseste “Um dia nós vamos rir disso, né?”. Verdade.
Essa é uma das nossas histórias preferidas.
Ah, não te contei. Depois de que nos chateamos um monte de gente veio falar mal de ti para mim! Mas relaxa, eu defendi-te.
Acredito que deva ter chegado ao teu ouvido que sempre te elogio quando me perguntam por ti, e é irónico, porque tu fizeste exatamente o contrário.
Mas tudo bem, sempre foste meio infantil mesmo.
Queria tanto te contar do meu namorado! Acreditas que finalmente após tanto tempo, encontrei alguém que me faça feliz?
Acho que ias gostar dele e se sentir orgulhosa ao notar o quanto estou mudada.
Ele apareceu logo depois que te perdi, o que foi muito bom porque eu não sabia o que fazer da vida, estava sem rumo mesmo.
Que chatice. Queria me livrar dessa mania de querer contar-te tudo o que acontece comigo!
Só que depois de tantos anos te tendo como minha melhor – e única – ouvinte, fica difícil.
Mas tudo bem, porque mesmo longe, estás perto. Estás dentro do meu coração, eternizada.
Ainda consigo ouvir o som do teu riso, a tua voz irritante e sentir o teu perfume. Não fomos amigas para sempre, mas fomos amigas de verdade. Eu sei que fomos.
Então é isso, vou ficar por aqui porque a saudade está a apertar demais e eu prefiro fingir que tu não me fazes falta nenhuma.
Só quero que me prometas que te vais cuidar, acabar com esse gajo que chamas de namorado, e que – por favor – não destruas mais nenhuma amizade verdadeira que por acaso possa aparecer na tua vida.
Eu? Bem, eu vou continuar a ser uma filha da puta orgulhosa que morre de saudades mas não corre atrás.
Porque eu sou assim e tu sabes disso.
Queria conseguir odiar-te, nem que fosse só um pouquinho. Beijos de quem torce por ti, sempre.
ps. adoro colocar ps nas cartas;
ps². não vou falar nada de importante mas sei que tu adoras as minhas observações inúteis no fim das cartas;
ps³. consigo ouvir o som do teu riso daqui…”
Autora: Isabela Freitas
Fonte: isabelafreitas.com.br
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