25 de fevereiro de 2019

EXCLUSIVO O que pensa a oposição venezuelana que discorda de Guaidó e não quer intervenção

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EXCLUSIVO O que pensa a oposição venezuelana que discorda de Guaidó e não quer intervenção

O Brasil de Fato entrevistou Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia Nacional, nesta quarta-feira (6)

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)
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Vice-presidente da Assembleia Nacional em desacato, Edgar Zambrano diz ser a favor de diálogo com o governo / Foto: Fania Rodrigues
Um dos principais líderes da oposição, o vice-presidente da Assembleia Nacional em desacato, Edgar Zambrano, apoia o deputado e autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. No entanto, se diz contrário à intervenção militar estrangeira na Venezuela, ao contrário de Guaidó, que afirma que "todas as cartas estão sobre a mesa" e, no último sábado (2) em um discurso, falou sobre uma possível guerra civil no país.
"Sou um democrata, sou político de ofício. Convencido como estou de que a democracia é a única saída, não posso estar de acordo com uma ação militar. Uma intervenção militar é uma ação violenta, é um luto para o país. É morte. Não há outra expressão", destacou Zambrano, que recebeu o Brasil de Fato na Assembleia Nacional para uma entrevista.
O deputado defende a convocação de novas eleições presidenciais, mas não em 30 dias como querem Guaidó e seus aliados. E afirma que o diálogo é o único caminho pacífico, apesar do fracasso de outras tentativas de chegar a um acordo.
"Diante da possibilidade de violência, qual seria o outro caminho? Contra as balas qual seria a outra tarefa? Se nessas instâncias se prioriza o interesse universal dos cidadãos, esses diálogos poderiam ter sucesso", pontua.
Entre os temas de uma possível agenda de diálogo com o governo, Zambrano acredita que deveria estar a "renovação do Conselho Nacional Eleitoral" e a negociação sobre um "modelo econômico diferente".
Ele afirma que o Poder Executivo venezuelano controla os demais poderes do Estado. "Precisamos de autonomia dos poderes. O Poder Executivo não pode ter o controle de todos os poderes do Estado, porque se deteriora, se obstruiu o império da lei", defende o opositor.
Para Edgar Zambrano, a responsabilidade do fracasso dos últimos diálogos entre governo e oposição não recai apenas sobre uma das forças políticas, mas sobre as duas. "Aceito que exista uma responsabilidade compartilhada entre o governo e a oposição", disse o vice-presidente do Poder Legislativo, de maioria opositora.
Zambrano, disse ainda que "admite que a oposição falhou" ao não oferecer uma saída pacífica aos conflitos políticos a partir de 2015. "Assim como o governo cometeu grandes erros, a oposição também cometeu. Agora, não podemos entrar na dicotomia sobre quem tem razão", afirma.
Novas eleições
Zambrano e Guaidó concordam que devem ser realizadas novas eleições presidenciais, já que, segundo os opositores, uma parte dos partidos, por se opor ao governo e a suas decisões, não participou do último pleito. Porém, a questão não é unânime entre o setor opositor ao governo de Nicolás Maduro, como é o caso do líder do partido Soluções para a Venezuela, Claudio Firmín, que aponta que o as últimas eleições foram válidas.
"As eleições de 20 de maio [de 2018] foram realizadas e isso é um fato. Outras pessoas afirmam que as eleições foram falsas e estão fora da realidade. São as mesmas pessoas que dizem ao país que a razão do triunfo de Maduro foi a fraude, quando nós sabemos que o que causou o triunfo foi a abstenção", disse o líder opositor.
Firmín foi chefe de campanha do candidato opositor Henri Falcón e sua coligação participou de todos os processos de auditorias do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Seu partido registrou junto ao CNE algumas denúncias de irregularidades que ocorreram no dia da eleição fora de alguns centros eleitorais. Contudo, não houve nenhuma denúncia de fraude eleitoral, nem de nenhum tipo de irregularidade envolvendo o Poder Eleitoral.
"Maduro ganhou as eleições de 20 de maio. Eu trabalhei para que não fosse assim. Faço política com os pés no chão, enquanto outros confundem as pessoas com fantasias", escreveu em sua conta no Twitter recentemente.
Ele é crítico ao deputado Juan Guaidó e à sua autoproclamação como presidente da Venezuela. Apesar de opositor ao governo Maduro, Firmín diz que não está de acordo com os métodos de setores da oposição, que, segundo ele, "têm contado muitas mentiras" à população.
"Disseram que com as guarimbas [protestos violentos] em cada esquina, trancando ruas, o governo iria desaparecer e isso não aconteceu. Depois a Assembleia Nacional decretou o vazio de poder do cargo de presidente [2016] e não aconteceu nada, porque era mentira. Depois disseram ao país que iriam derrubar o presidente em seis meses. Contaram muitas mentiras ao país, porque estão buscando aplausos, aprovação de uma país que quer mudança", apontou o líder opositor em um entrevista à página de notícias Sumarium. O Brasil de Fato procurou Claudio Firmín para comentar as declarações, mas não obteve resposta.
Nicolás Maduro afirma que as eleições presidenciais já foram realizadas e que ele foi eleito com 67% dos votos. Mas, em uma entrevista ao jornalista espanhol Jordi Évole, nesta semana, o presidente admitiu que a possibilidade uma nova eleição presidencial "está sobre a mesa". E que estaria disposto a discutir o tema com a oposição em uma mesa de diálogo.
Fracasso da convivência entre os poderes
A deputada e vice-presidenta da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Tania Díaz, confirmou ao Brasil de Fato que as eleições que serão adiantadas serão às da Assembleia Nacional e não a do Poder Executivo, como quer a oposição.
"O presidente da ANC, Diosdado Cabello, propôs adiantar as eleições do Poder Legislativo. O presidente Maduro disse que também estava de acordo. Esse é um mecanismo mais apropriado e se opõe a uma saída violenta, como às que estão oferecendo a oposição através da Assembleia Nacional", disse Díaz.
Falando em violência, a deputada denunciou que há um risco de intervenção militar no país promovida por nações que apoiam Guaidó, que promovem supostamente a bandeira da democracia e da ajuda humanitária, mas que, na realidade, promovem o envio disfarçado de forças militares. "Estão promovendo a entrada de tropas estrangeiras dentro do território venezuelano, com a desculpa de ajuda humanitária", apontou.
Divergências nos poderes
O conflito entre os poderes do Estado venezuelano começou em 2015, quando a Assembleia Nacional foi eleita com maioria opositora. O então presidente do órgão legislativo, Henry Ramos Allup, em seu discurso de posse, em janeiro de 2016, prometeu destituir o presidente da República em seis meses. Um ano depois, em janeiro de 2017, a Assembleia Nacional realizou um "julgamento político", contra Maduro e o destitui do cargo. Entretanto, o Tribunal Supremo da Justiça anulou a decisão. Estava declarada a guerra entre os poderes.
Desde agosto de 2016, a Assembleia Nacional do país está em desacato por uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça, proferida após o Poder Legislativo desacatar uma ordem judicial que negava a posse de três deputados opositores condenados por crimes eleitorais. Os poderes da Assembleia Nacional foram suspensos até que cumprissem à ordem, o que nunca aconteceu.
A oposição foi para as ruas e realizou diversos protestos, entre fevereiro e julho de 2017, muitos deles violentos. Mais de 100 pessoas foram mortas, entre chavistas e opositores. Cerca de 80 militares foram presos e condenados, assim como mais de duzentos militantes opositores.
Com o objetivo de levar o conflito das ruas para às urnas, o presidente Maduro convocou uma eleição da Assembleia Nacional Constituinte. A oposição faz uma chamado à abstenção, mas ainda assim mais de 8 milhões de pessoas, cerca de 40% do eleitorado venezuelano, saíram para votar. Essa participação eleitoral foi considerada por analistas nacionais e estrangeiros como uma vitória do chavismo.
Na sequência, a ANC convocou outras quatro eleições, com sucessivos triunfos das forças políticas chavistas. Dentre essas eleições, os três grandes partidos da oposição decidiram participar de apenas uma: a de governadores em outubro de 2017. O chavismo ganhou em 19 dos 23 estados. Já o partido opositor Ação Democrática ganhou em quatro estados e aceitou os resultados eleitorais. Os partidos Primeiro Justiça e Vontade Popular não reconheceram os resultados, mas não convocaram protestos.
Entretanto, em janeiro deste ano a direita venezuelana voltou a questionar nas ruas a legitimidade dos poderes das instituições do Estado venezuelano, pedir eleições para o Poder Executivo e a reformulação do Conselho Nacional Eleitoral (Poder Eleitoral) e não reconhecer decisões do Tribunal Supremo da Justiça.
A deputada Tania Díaz criticou a oposição e disse que trata-se de uma luta de duas classes opostas. "Neste momento existem duas alternativas políticas. Uma que sempre optou pelo voto, pela decisão popular e o respeito à constitucionalidade, que somos nós, os porta-vozes da Revolução Bolivariana. E do outro lado estão os interesses de uma classe social privilegiada. Eles estão trabalhando para recuperar seus privilégios".
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

19 de fevereiro de 2019

Bebianno é primeiro ministro do governo Bolsonaro a ser exonerado

BLOG - Com Jornalismo Levado a Sério. - BISPO MAGALHÃES:
Por Camila Mattoso, Ranier Bragon, João Valadares...
: Por Camila Mattoso, Ranier Bragon, João Valadares e Igor Gielow A crise política causada pela revelação de um esquema de candidaturas ...

Por Camila Mattoso, Ranier Bragon, João Valadares e Igor Gielow
A crise política causada pela revelação de um esquema de candidaturas laranjas do PSL levou à primeira queda de ministro do governo de Jair Bolsonaro.
A exoneração de Gustavo Bebianno do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi confirmada pelo porta-voz da Presidência, naquilo que Bolsonaro já havia sinalizado nos bastidores. O general da reserva Floriano Peixoto, secretário-executivo da pasta, é o mais cotado para assumir o posto.
Bebianno se tornou o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha de S.Paulo revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral.O  partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

Como presidente do PSL nas eleições, Bebianno foi o homem forte da campanha vitoriosa de Bolsonaro e responsável formal pela liberação de verba pública para todos os candidatos do partido. Sua ligação próxima com o presidente o alçou a um ministério instalado dentro do Palácio do Planalto.
A queda do ministro decorre da maior turbulência política enfrentada pelo governo Bolsonaro, que completa 49 dias de existência nesta segunda-feira.
A saída precoce dele do Planalto preocupa aliados do presidente pelo potencial explosivo de supostas ameaças que Bebianno estaria fazendo nos bastidores.
Neste domingo (17), ele disse à Folha de S.Paulo que, fora do governo, não pretende atacar Bolsonaro, embora haja certa expectativa de que ele mire no vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que alavancou a crise ao chamar o agora ex-ministro de mentiroso.
Na última quarta-feira (13), Carlos, que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.
Antes dessa declaração, a Folha de S.Paulo havia publicado que Bolsonaro, ainda internado no hospital Albert Einstein no processo de recuperação de uma cirurgia, se recusara a atender um telefonema de Bebianno para tratar do assunto.
Bolsonaro endossou nas redes sociais os ataques do filho, inclusive de que Bebianno mentiu, e ainda afirmou, em entrevista à TV Record, que seu ministro poderia “voltar às suas origens” se fosse responsabilizado pelo caso dos laranjas. Na mesma entrevista, Bolsonaro anunciou que havia determinado a investigação pela Polícia Federal.
Além das críticas, Carlos Bolsonaro elevou a temperatura da crise ao divulgar um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno. A interferência de Carlos foi alvo de críticas de aliados e da ala militar do governo Bolsonaro, que agiu para tentar segurar Bebianno, mas, agora, tenta se consolidar no núcleo da gestão federal ocupando a vaga do ministro.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) chegou a declarar que não se poderia  “fazer puxadinho da Presidência da República dentro de casa para expor um membro do alto escalão do governo”.
A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.
Bolsonaro e Bebianno tiveram um encontro ríspido na sexta-feira (15) sobre o tema. Na manhã daquele dia, Bebianno havia recebido indicação de que ficaria no cargo após movimento liderado pelo ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e por militares.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, também entraram no circuito. Todos com o discurso de que a queda do ministro poderia colocar em risco o início das negociações da reforma da Previdência, que chega ao Congresso nesta semana.
No último dia 10, reportagem da Folha de S.Paulo revelou que o PSL criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. Ela teve 274 votos e gastou R$ 380 mil em uma gráfica com endereço de fachada, sem máquinas para impressões em massa.
O dinheiro foi liberado por Bebianno, que presidia o partido na ocasião. Naquele mesmo dia, em entrevista à rádio CBN, ele afirmou que a responsabilidade pelo repasse dos recursos foi do deputado federal Luciano Bivar, presidente atual do PSL, cujo reduto eleitoral é Pernambuco.
À Folha de S.Paulo Bivar jogou a decisão para Bebianno: “Quem decidiu foi a [direção] nacional, na época eu não era presidente. Nem da nacional nem no estado”. Ata do PSL divulgada pela Folha de S.Paulo entregou a Bebianno a responsabilidade pelos repasses dessa verba a esses candidatos.
Candidata laranja em Pernambuco, Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição.
Apesar de ser uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve uma votação que representa um indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
Essa candidatura laranja virou alvo da Procuradoria, da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Na quarta (13), a Folha de S.Paulo revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada.
Já na quinta-feira (14), a Folha de S.Paulo mostrou que uma gráfica de pequeno porte de um membro do diretório estadual do PSL foi a empresa que mais recebeu verba pública do partido em Pernambuco nas eleições -sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na empresa da cidade de Amaraji, interior de Pernambuco.
A série de reportagens da Folha de S.Paulo sobre o tema começou no dia 4 de fevereiro mostrando que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas.
Após indicação do PSL de Minas, presidido à época pelo próprio Álvaro Antônio, o comando nacional do partido do presidente Jair Bolsonaro repassou R$ 279 mil a quatro candidatas. O valor representa o percentual mínimo exigido pela Justiça Eleitoral (30%) para destinação do fundo eleitoral a mulheres candidatas. Parte do gasto que elas declararam foram para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.
O ministro nega irregularidades. A Procuradoria de Minas abriu investigação sobre o caso.
No sábado, Bebianno se disse perplexo com a diferença do tratamento que vinha recebendo de Bolsonaro em comparação ao do colega de Esplanada. “Eu estou recebendo tratamento com perplexidade. Quem dispensa o tratamento é que tem explicar os seus motivos”, disse, ao reclamar da diferenciação.
Bebianno ainda criticou a Folha de S.Paulo. “Se for provado algo contrário a responsabilidade não é minha, não é da nacional, isso não existe. Simplesmente a Folha de S.Paulo tenta forçar, induzir essa coisa, mas não é verdade. Simplesmente a Folha de S.Paulo consegue atingir a honra de uma pessoa de bem porque, porque na política a gente sabe como as coisas funcionaram até aqui. Então a política é muito mal vista”, disse Bebianno.
“A minha consciência está absolutamente tranquila e limpa, a Folha de S.Paulo publicou tentando me vincular, não tem nada a ver comigo, isso é a lei, o estatuto do partido, é o bom senso”, ressaltou.